Fenômeno em bilheteria, o filme Barbie está gerando muita polêmica nos últimos dias. Com uma pauta declaradamente feminista (ou humanista?), muitas igrejas acreditam que ele é um tipo de investida diabólica contra a “tradicional família cristã” – mas essa não é a proposta do filme.
Deixe-me explicar.
Embora a Bíblia não determine realmente como seria uma “mulher ideal”, ficou no imaginário religioso que uma esposa e mãe com família de comercial de margarina seja um objetivo claro a ser alcançado. E, de fato, logo no começo do filme esse ideal é literalmente quebrado.
Na primeira cena, vemos algumas meninas brincando com bonecos que parecem bebês, como se fossem suas mães. E de repente aparece uma Barbie loira de maiô e óculos escuros, tão chamativa que imediatamente as meninas destróem os bonecos para ficar com ela.
E quem é essa Barbie?
É uma mulher que vive em Barbielândia, um lugar com festa todo dia, roupas, luxo e alegria infinita. Além disso, nesse lugar todas as mulheres trabalham, enquanto os Ken estão na praia, sem função.
As Barbies são como a mulher de Provérbios 31:
“Adquire a lã e o linho, e trabalha com mãos hábeis…Examina o terreno e o compra.”
Elas são espertas, trabalhadoras e estão prontas pra tudo.
Mas tem um porém. Dois, na verdade.
O primeiro é que a Barbie não gosta tanto assim do Ken, e eles só estão juntos porque…sim.
E o segundo é que a Barbie está funcionando mal: ela é perfeita, mas…agora está pensando sobre a morte e seus pés estão tocando o chão (deveriam permanecer no formato do salto alto!).
Para resolver esse problema, Barbie precisa ir para o mundo real e encontrar a mulher que brinca com a versão boneca dela. Se essa mulher ficar feliz, ela também voltará ao normal.
Barbie e Ken (que invade a missão da parceira) vão para o mundo real e descobrem algo terrível: nesse novo mundo, quem governa são os homens, e não as mulheres.
Aqui cabe uma crítica: o mundo real não é tão simples quanto o filme quer fazer parecer.
No filme, absolutamente todas as pessoas que Barbie encontra são de alguma forma agressivas com ela, e até os policiais “passam uma cantada” nela. Mas a realidade não é bem assim.
O mundo é um lugar complexo, mas o filme cria uma dicotomia simplista demais, um patriarcado do mundo real versus um matriarcado de Barbielândia que só podem existir na imaginação.
Talvez o objetivo fosse esse mesmo: extrapolar esses universos e atacar outros argumentos. Mas por causa disso, o filme certamente deveria ser retirado da lista dos Oscars.
Mas continuando, Barbie descobre que não é tão querida assim. Afinal, seu padrão de beleza é inalcançável e seu consumismo é insustentável. Ela é, na verdade, símbolo de um capitalismo patriarcal.
Enquanto isso, Ken descobre que poderia inverter o jogo: os homens poderiam governar a sociedade. Ele fica tão feliz com isso, que volta para Barbielândia para instaurar seu reinado regado de cerveja, cavalos e roupas pretas country.
O lugar mágico e perfeito, então, se transforma: todas as Barbies ficam submissas aos homens, que apenas dormem até tarde, assistem filmes e têm o ego e seus pés massageados por mãos delicadas.
Quando Barbie, a mulher que brincava com ela e sua filha chegam em Barbielândia, descobrem um paraíso virado de cabeça pra baixo.
E o que elas fazem para vencer esse novo e problemático patriarcado?
Separam Barbies e Kens, e explicam para cada Barbie que esse novo sistema é uma furada: elas nunca irão vencer, porque precisam fazer coisas contraditórias ao mesmo tempo. Elas precisam ser firmes e fortes, mas submissas; ter carreiras bem sucedidas, mas serem mães e esposas em tempo integral; precisam ser doces, mas nunca frágeis, e por aí vai.
Enquanto as Barbies tomam de volta o governo por meio de uma votação no Parlamento, os Kens cantam sobre como eles amam a Barbie, mas nunca são correspondidos (talvez uma crítica para a mídia dedicada a mulheres, com livros e filmes românticos, que distraem do universo da política, esportes e trabalho).
Quando tudo volta ao “normal” do começo do filme, os personagens estão transformados.
Agora Barbie pede desculpas a Ken por ter ignorado ele por tanto tempo, e deixa claro que não quer ficar junto com ele. E aqui ele percebe que precisa se encontrar longe da parceira, isto é, precisa descobrir sua essência além do relacionamento.
Enquanto isso, Barbie percebe que o que ela realmente queria não era ser uma Barbie com uma profissão extraordinária, nem ser a mais bonita, mas apenas ser humana.
E aqui está a real mensagem do filme: se a evolução da Barbie (e das mulheres) era sair de um papel único de pilar da família (mãe e esposa) para uma Barbie com profissão de liderança (médica, advogada, dentista, engenheira, etc), agora é apenas ser. A emancipação não está no trabalho, nem na família, nem na aparência, está em apenas ser quem se é – e isso basta.
E o que isso tem a ver com a mulher de Provérbios 31?
Bom, assim como a Barbie colocou padrões inalcançáveis, essa idealização da mamãe do Rei Lamuel de quem deveria casar com seu querido filinho também.
Nenhuma mulher é como a mulher de Provérbios 31, com 2 empreendimentos na área de tecidos (”lã e linho”) e mercado imobiliário (”examina uma propriedade e a adquire”), e líder de um grupo de criados em sua casa. Ninguém consegue fazer “apenas o bem e não o mal, todos os dias” da vida do marido.
Lembre-se que nessa casa existem criadas mulheres também, que provavelmente não comercializam tecidos nem compram terrenos.
É impossível a mulher de Provérbios 31 ser um ideal para todas as mulheres, assim como é impossível a Barbie empreendedora e de corpo perfeito ser um ideal também.
Nesse sentido, a mensagem do filme Barbie é mais parecida com a mensagem de Jesus: “Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.” Lucas 10:38-42.
Tanto Barbie quanto Ken precisavam entender que sua função e valor no mundo não estão nos papéis sociais que desempenham: estão em apenas ser.
Desde o início, em Gênesis 1, Adão e Eva foram criados com o potencial de dominar todos os animais do mundo e expandir o Jardim do Éden a todo o lugar que visitassem.
Ou seja, a mensagem de “ser, antes de fazer” está desde o começo da Bíblia, com uma promessa de expandir a essência para a realidade.
Acredito que essa é a mensagem do filme e das palavras de Jesus para Marta: o valor do ser humano não está nos papéis sociais, está em apenas ser. A “boa parte” está em ouvir Jesus e no desenvolvimento pessoal, não em fazer tarefas. (Mas que toda tarefa também seja feita com cuidado e alegria)
Agora me conta, você assistiu o filme? O que achou? Deixa seu comentário.