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Todos nós já nos perguntamos sobre como foi o “início de tudo”.

E mesmo que não pensássemos sobre isso, a sociedade nos empurraria essas questões, seja na igreja ou na escola.

Na igreja aprendemos que Deus é o criador, e na escola, que tudo surgiu por causa de uma probabilidade estatística inescapável, ou em outras palavras, “foi o acaso”.

Os mais fervorosos na fé veem o “acaso” como uma prova do divino, enquanto os mais inclinados para as ciências veem nesse mesmo “acaso” uma prova de que Deus não precisa existir.

E todos os cristãos são convencidos que Deus é o criador, mas nem todos são convencidos que Charles Darwin tinha razão sobre a Origem das Espécies.

Esse artigo se propõe a dar uma possível solução para esse impasse entre a Teoria da Evolução e a descrição de Gênesis 1, pensando nessas explicações em seus contextos.

Gênesis 1

“No princípio, Deus criou os céus e a terra.” – Gênesis 1:1

Eu não consigo imaginar uma forma melhor para se começar uma história. Se é para despertar curiosidade, com certeza essa pequena frase conquistou toda a minha atenção.

E se você, meu amigo leitor, for como eu, deve ter ficado atento também.

Imagine um Deus capaz de criar a grandeza de algo que nem compreendemos realmente.

Um Deus capaz de criar isso:

Planeta Terra

Foi isso que você imaginou?

Eu também.

Vamos contemplar um pouco essa imagem, porque a sequência vai ser um pouco…perturbadora.

Está preparado?

Aí vai o segundo versículo da Bíblia.

“A terra, porém, era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo. E o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” – Gênesis 1:2

É apenas o segundo versículo, e a situação já complicou.

Como eu deveria imaginar essa criação então? Uma gelatina sem forma, oca e esquisita coberta por água no meio de um nada escuro, com um Espírito flutuante?

Um começo tão bom, com uma sequência tão… horrível. Quem faria gelatina cósmica…? E eu nem sei onde estariam essas águas… e que “Espírito de Deus” é esse? O próprio Deus? Então porque não falou só “Deus”?

E pensar que eu aprendi que essa história era muito melhor do que a Teoria da Evolução, e o Big Bang, com todos aqueles nomes sofisticados de partículas nunca vistas, apenas calculadas.

Mas espere um pouco…

Por que eu comecei imaginando que Deus tinha criado a Terra desse jeito? Toda redonda e em alta resolução? Como uma imagem feita por um satélite do século XXI e editada na última versão do Photoshop, enquanto Gênesis foi escrito há milhares de anos atrás?!

Quero dizer… com certeza absoluta o escritor dessa história não sabia que a Terra era redonda, e nem poderia imaginar algo como aquela primeira foto. (*E sim, eu sei que tem leitores pensando “mas Deus sabia que a Terra era assim”, mas sejamos francos, Deus nunca corrigiu nenhum entendimento científico errado na Bíblia, e não acho que ele tenha revelado fotos de satélites do nosso século para o escritor de Gênesis. Me dê uma chance aqui.)

Então… o que ele quis dizer com “criar céus e terra”?

Qual a imagem que o autor imaginava quando escreveu isso?

É uma imagem que está por todo o Antigo Testamento. Era algo mais como:

O céu era aquilo que ficava lá em cima, e a terra era onde as pessoas pisavam.

É, acho que essa imagem faz mais sentido…

E o segundo versículo? O que poderia significar?

O segundo versículo nos apresenta um problema. No princípio, a terra não era exatamente um lugar agradável para se viver. Não dava pra montar uma casa, plantar um jardim, colocar as crianças pra brincarem perto do rio.

Tudo estava sem forma. Era como se fosse um deserto vazio e sem montanhas ou vales ou vegetação de um lado e muita água do outro, e em nenhum lugar dava pra viver…

E esse seria um cenário ruim demais para me fazer querer continuar lendo, mas o autor colocou uma ponta de esperança ali.

Existia um vento, semelhante ao que sai de nossas bocas e nariz quando respiramos e falamos (significado de “Espírito” em Gênesis 1:2 na língua original), e esse vento de vida estava pairando por sobre as águas. Ele estava ali, o que indica que a história ficaria animada de novo.

E realmente fica! Apenas com o poder da palavra, Deus cria em alguns dias os mares, a terra, os céus, os pássaros, animais aquáticos e terrestres, a vegetação e tudo que alguém há 3.000 anos atrás poderia conhecer.

Então, se eu pudesse resumir o que entendi dessa história, diria:

  • Existe um Deus que tem o poder de criar coisas usando apenas a palavra
  • Esse Deus fez o mundo de uma forma que eu possa viver nele

Então, realmente, é uma ótima forma de se começar um livro sobre Deus. Em dois versículos já conseguimos saber muito sobre ele.

Viagem no tempo: a vida do século XXI

Séculos depois de Gênesis ter sido escrito, a ciência dominou o mundo. Ela está na nossa cultura por meio de todos os equipamentos eletrônicos que temos, da internet que acessamos todo dia, das medidas governamentais para gerir nossas cidades, ela está em toda a parte.

Hoje conseguimos ver coisas que seriam inimagináveis para a maior parte da humanidade: vemos bactérias minúsculas e galáxias enormes, e essas imagens podem ser disponibilizadas para qualquer um que queira pesquisar no Google.

Não só isso, nossa linguagem evoluiu. Criamos palavras como quarks, microscópio, quântica, matéria escura, buracos negros, genes, DNA, fotossíntese, e por aí vai! Todas as áreas do conhecimento expandiram nosso vocabulário.

Nosso poder de descrição é incrível. Se duvida, experimente abrir um livro de biologia. E que tal um livro de física? A linguagem ali é tão complexa que pararam de usar letras para começar a usar fórmulas matemáticas. Com letras.

E todo esse conhecimento é observável. Aqui no Brasil ou do outro lado do mundo, as nossas descrições são tão precisas que funcionam sempre.

No meio disso, não é a toa que dizer “Deus criou” parou de ser uma boa explicação para o surgimento do mundo.

Não basta.

Nossas dúvidas não são mais as dúvidas da época de Moisés. Não queremos mais saber qual Deus é o mais forte: o nosso ou o dos inimigos. Não queremos formar uma nação de pessoas com a mesma fé. Aliás, pelo contrário. Queremos formar nações multiculturais, o mais diversa possível, com base na democracia e não no poder de um monarca, ou de juízes, ou sem controle governamental nenhum.

Nós queremos saber mais.

E a Teoria da Evolução permite exatamente isso. Nos permite saber mais.

A Teoria da Evolução

Muitas vezes ouvi na igreja que “A Teoria da Evolução” é “apenas” uma “teoria”, no sentido de ser uma suposição que pode ser alterada depois.

E, de fato, teorias eventualmente podem sim ser modificadas.

Aqui vai uma citação sobre o que é Teoria Científica para Stephen Hawking, autor do livro Uma Breve História do Tempo e um dos maiores gênios de nosso tempo:

“Uma boa teoria deve satisfazer a dois requisitos: Precisa descrever com precisão um número razoável de observações, com base em um modelo que contenha poucos elementos arbitrários; e deve prever com boa margem de definição resultados de observações futuras. Qualquer teoria na física é sempre provisória, no sentido de que é apenas uma hipótese, você nunca pode prová-la em definitivo. Não importa quantas vezes os resultados das experiências estejam de acordo com algumas teorias, não se pode ter a certeza de que na próxima vez o resultado não irá contradizê-las. Por outro lado, você pode refutar uma teoria por encontrar uma única observação que não concorde com as suas previsões.” – Stephen Hawking

Lendo isso pode parecer realmente que uma Teoria é “apenas teoria”.

Mas não é bem assim.

Acompanhe comigo como uma Teoria Científica é formada.

Primeiramente, as coisas acontecem no mundo, sem ninguém se importar muito. Até que alguém, ou um conjunto de pessoas, começam a documentar essas coisas. Essas pessoas reúnem fatos sobre o mundo.

E esse fatos começam a apresentar algumas relações entre si ou algum padrão. Por exemplo, alguém pode notar que uma flor sem exposição ao Sol morre mais rápido. Ou que todos os anos o clima apresenta ciclos regulares.

A partir dessas observações, começam a ser criadas hipóteses, que são tentativas de explicação do porquê ou como aqueles fatos acontecem. Por exemplo, uma hipótese é que as flores precisam de Sol para conseguir nutrientes vitais, ou que a Terra se move ao redor do Sol, o que faz nosso clima variar ciclicamente.

A partir dessas hipóteses, criam-se experimentos. Um experimento válido precisa testar a hipótese de modo que seja possível confirmar ou refutar ela.

Quando uma hipótese é testada por muitas e muitas pessoas, e sobrevive a qualquer objeção feita por toda uma comunidade científica, ela ganha o status de Teoria.

Ou seja, a Teoria Científica não é “apenas uma teoria”. Ela é o grau máximo de comprovação de uma hipótese.

E por que chamar então de “Teoria”?

Porque, como Stephen Hawking comentou, sempre é possível descobrir coisas novas, que nos farão rever o que acreditamos.

Mas então, para a Teoria da Evolução ter chegado a esse status de Teoria, significa que ela foi testada e aprovada mundialmente.

E o que ela diz?

Que existe variação de características entre pais e filhos, e as variações que fazem o indivíduo se adaptar melhor aos desafios do ambiente permanecem, enquanto as menos favoráveis vão se extinguindo, em processos que demoram centenas, milhares, ou milhões de anos.

Só isso.

Uma ideia simples, e que parece razoável.

Mais que isso, uma ideia que foi observada e comprovada ao redor do mundo inteiro.

E o que A Teoria da Evolução tem a ver com a História da Criação?

Nada.

Bom, mais ou menos.

A Teoria da Evolução nos conta como novas espécies surgem: por meio da variação de características, que hoje sabemos ser uma variação genética. E assim, podemos extrapolar essa ideia e criar teorias sobre Como Surgiu o Mundo a partir de estruturas biológicas e físicas extremamente simples, chegando até nós, que somos complexos.

Mas afinal, o que entendemos da Teoria da Evolução então?

  • Novas espécies surgem a partir da variação entre pais e filhos, uma vez que essas variações são “selecionadas” naturalmente na medida que aquelas que fazem o indivíduo se adaptar melhor ao ambiente ficam, enquanto outras somem
  • É muito provável que o mundo inteiro evoluiu de algo muito simples para algo muito complexo e diversificado

Conclusão

As dúvidas do Mundo Antigo eram bastante diferentes das nossas. Para eles, não existia distinção entre o que era divino e o que era “natural”.

Não era uma questão de “se” deus criou o mundo, mas sim “qual” deus criou o mundo. E eu acho que é exatamente isso que Gênesis vai começar a tentar responder: “quem” é o deus de Abraão.

A História da Criação nem tenta introduzir qualquer tipo de descrição mais complexa do que “Deus falou e aconteceu”. E muito menos consegue falar sobre qualquer coisa que não fosse observável por um indivíduo comum da época.

A Teoria da Evolução, por sua vez, nem considera que exista um mundo “divino”. O que ela procura responder é “como existem tantas espécies?”.

Só que a ideia dela é tão poderosa, e simples ao mesmo tempo, que podemos extrapolar e imaginar um início de tudo simples, que durante milhões de anos se torna extremamente complexo.

E o que isso tem a ver com “quem é Deus”? A princípio, nada.

A História da Criação responde perguntas do Mundo Antigo, enquanto a Teoria da Evolução responde perguntas da Era da Informação – a mais sofisticada da história da humanidade.

Agora, confiando na Ciência para descrever o funcionamento do mundo, e confiando na Bíblia para refletirmos sobre a experiência humana, podemos aproveitar o que há de melhor desses dois mundos.

E claro, é possível ainda acreditar que a descrição em Gênesis 1 corresponde ao que nós entendemos por “Terra”, como um planeta, mas aqui estamos apresentando uma versão em contexto histórico.

Você gostou desse post? Deixa seu comentário, esse tipo de assunto sempre gera as conversas mais interessantes!

1 thoughts on “Criação x Evolução: o que não ouvimos na igreja

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