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Ninguém quer acreditar em mentiras ou em algo errado.

Nós queremos ter razão para acreditar no que acreditamos.

E o meio que temos para expressar a nossa razão são os argumentos.

Ter bons argumentos significa ter boas razões para agir ou pensar de determinada forma.

Ao mesmo tempo, os maus argumentos levam ao erro, ou seja, a uma crença ou ação infundada.

E todos podemos nos convencer por maus argumentos.

Quem nunca caiu em um bom papo de vendedor?

É possível até acabar comprando um morcego morto, como mostra esse vídeo hilário dos Barbixas:

A argumentação também aparece nas discussões.

Uma discussão nada mais é que uma conversa entre pessoas que usam argumentos para defender pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto.

Em uma discussão, vence quem tem o melhor argumento.

Mas então, o que é um bom argumento?

Em primeiro lugar, bons argumentos não tem nada a ver com gritaria ou xingamentos.

Um bom argumento não envolve violência.

Não é possível ganhar uma discussão simplesmente acusando seu oponente de ignorante ou mau caráter, ou tirando ele da conversa usando a força.

E bons argumentos também não são reclamações.

Reclamações são apenas uma expressão dos nossos sentimentos.

Além disso, contrariar uma pessoa dizendo “não” ou “não concordo” também não é um ato de contra-argumentação ou uma boa argumentação. Isso é apenas negar uma ideia sem oferecer motivos ou razão para isso.

Um argumento é uma série de afirmações desenvolvidas intencionalmente para estabelecer uma certa proposição ou para justificar e entender algo que já se sabe ser verdade.

Ou seja, são as razões para acreditar que algo é verdade, ou razões para justificar o porquê algo é verdade.

Uma definição formal é:

Um argumento é uma série de afirmações em que algumas são premissas e uma é a conclusão, e as premissas são as razões que sustentam a conclusão.

Quando argumentos são usados?

Argumentos são usados para persuadir, isto é, para convencer as pessoas a fazer ou acreditar em algo que elas não fariam ou não acreditariam, caso não tivessem sido convencidas para tal.

Mas quando não são usados para mudar a opinião de ninguém, mas para apresentar razões para acreditar em algo, então dizemos que estamos argumentando para justificar.

Por exemplo, o vendedor do primeiro vídeo estava persuadindo o cliente em potencial a comprar um morcego morto, que nunca seria comprado caso o vendedor não causasse um impacto e levasse o homem a comprar o animal.

Mas se alguém perguntasse para o homem por que ele comprou o morcego morto, o rapaz poderia apenas justificar a sua atitude sem tentar convencer ou persuadir ninguém a também comprar o produto.

Os argumentos poderiam ser exatamente os mesmos nos dois casos do exemplo, mas o objetivo seria diferente.

Para justificar algo os argumentos precisam ser muito bons. Mas para persuadir alguém é possível usar argumentos ruins, afinal, o objetivo é mudar o entendimento ou a ação da outra pessoa por meio de um impacto.

Por isso, em uma discussão, sempre vale a pena se perguntar se o oponente está tentando te persuadir a algo ou está justificando o que ele acredita.

Se a resposta for persuadir, talvez a forma mais fácil de virar o jogo é colocá-lo no modo de se justificar.

Para dar um exemplo prático, se alguém tenta nos convencer a frequentar uma certa igreja podemos mudar o tom da conversa. Podemos perguntar o porquê a pessoa que faz o convite frequenta aquele lugar e seguir entendendo o porquê ela mesma gosta de lá, ao invés de nós nos submetermos a uma série de argumentações com propósito de nos convencer a ir. Não seríamos nós a nos justificar do porquê aceitar ir ou não ao lugar, mas a pessoa que precisaria se justificar do porquê ela mesma frequenta.

Isso ajuda a nos previnir contra más argumentações, que podem ser mais facilmente encontradas durante uma persuasão.

Agora, se estamos apresentando argumentos sobre um fato que já se sabe ser verdade, dizemos que estamos usando argumentos para explicar esse fato.

Nesse caso não estamos tentando persuadir, porque não queremos mudar a opinião do outro. Também não estamos apenas justificando, porque quando justificamos pode ser que a outra pessoa não concorde com nosso ponto de vista. Estamos explicando por que algo aconteceu, e esse algo de fato aconteceu e todos concordam com isso.

O objetivo da explicação é ajudar as pessoas entenderem o porquê algo é verdade.

Bons argumentos nem sempre convencem

Não é o suficiente ter bons argumentos para convercer as pessoas.

Sempre existirão aqueles que irão entender de forma errada ou simplesmente irão acreditar no oposto cegamente. E nem sempre as pessoas são racionais.

Porém, bons argumentos nos permitem expor nossas opiniões e crenças de forma clara, coerente e correta.

Isso aumenta nossas chances de sermos compreendidos, e então respeitados.

Claro, nem sempre.

Mas se nós entendermos os motivos que nos levam a descordarmos, e o motivos que fazem outras pessoas pensarem de forma diferente, poderemos ser mais respeitosos e estaremos mais próximos de construir relacionamentos melhores e mais saudáveis.

É possível justificar algo sem explicar o porquê é verdade

Por exemplo, eu acredito que a força gravitacional no nosso planeta é diferente daquelas em outros lugares do universo.

Eu não sei explicar o porquê isso é verdade, mas minha justificativa para acreditar nisso é que os livros de Física escritos e revisados por cientistas dizem isso.

Ou seja, eu acredito porque alguém com autoridade no assunto disse que era assim. Mas eu não sei explicar.

Do que são feitos os argumentos?

Argumentos são feitos de linguagem.

Existem três níveis de linguagem: a linguística, o discurso e a conversa.

A linguística envolve a construção de frases que tenham significado. E o significado é dado por meio de uma convenção social.

Por exemplo, a frase “Estou rico” é uma construção linguística completa.

E não seria possível chamar “meias” de “dinheiro” e concluir que “estamos ricos”, porque mudar o siginificado de uma palavra não implica em mudar a realidade.

O discurso é uma forma de expor um pensamento ou fato. Se a frase Eu digo que “…” e portanto “…” fizer sentido, podemos dizer que estamos fazendo um discurso.

Por exemplo, “Eu digo que me desculpo, portanto eu me desculpo” faz sentido. Então meu ato de desculpas é um discurso.

Outro exemplo, “Eu digo que te assusto, portanto eu te assusto” não faz sentido. Assustar alguém implica que causar medo no outro, e apenas dizer que assusta alguém não causa medo. Então dizer que assusta alguém não é um ato de discurso.

Um último exemplo: “Eu pronuncio que essas pessoas são marido e mulher, e portanto são marido e mulher” não é um ato de discurso. Embora faça sentido, as palavras “eu pronuncio que são marido e mulher” só tem efeito se a pessoa que fala puder legalmente realizar a cerimônia entre pessoas que são, de fato, noivos, e estão preparados para o casamento.

Uma frase mais completa para testar se uma exposição é discurso seria então Eu digo que “…”, nas circunstâncias adequadas, e portanto “…”.

O terceiro nível da linguagem é a conversa, que tem o objetivo de causar um efeito intencional no outro. Se nenhum efeito acontecer, então não houve conversa.

Esse efeito pode ser esclarecer, convencer, pedir, perguntar para obter uma resposta, combinar, informar, entre outros.

Em ambiente colaborativos, o filósofo Paul Grice criou quatro regras para ter boas conversas: (1) não diga muito, nem pouco demais; (2) não diga algo em que você não acredita ou que você não tem razão para acreditar; (3) seja relevante; (4) seja breve, ordenado, evite obscuridade e ambiguidade.

Em ambientes competitivos, o que se pode fazer é quebrar uma ou mais dessas regras.

Por exemplo, pode-se omitir informação dizendo pouco demais, ou sobrecarregar a pessoa com informações inúteis. Ou então pode-se mudar a ordem das frases induzindo a pessoa ao erro, como em “Ana e Pedro se casaram e Ana engravidou” versus “Ana engravidou e Ana e Pedro se casaram”.

Conclusão

Os argumentos fazem parte do dia a dia. São eles que nos permitem persuadir, justificar e explicar nossas razões para pensar e agir como fazemos, e nos permitem entender os outros.

Eles aparecem em discursos e conversas, e podem ser usados tanto para cooperar quanto para prejudicar os outros.

Essa foi a Parte I sobre a construção de bons argumentos, não perca as próximas!

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